Estamos às portas de mais uma Copa do
Mundo. Em 2014, será a vez do
Brasil sediar a sua segunda competição, visto que recebeu 13 seleções em 1950 e
a história todos já sabemos.
O propósito do artigo é relacionar Porto
Alegre com a Copa do Mundo, já que foi escolhida pela FIFA para receber jogos
em 2014, da mesma forma que 1950. É evidente que as realidades são
completamente diferentes, em aspectos sociais, econômicos, estruturais. Mas
como a capital gaúcha se preparou 60 anos atrás para receber delegações
estrangeiras para um campeonato mundial? Qual a interferência do poder público?
Como a população reagiu à novidade? Qual a realidade do futebol local à época?
Essas e outras perguntas são alvo deste
texto. Dei um mergulho nos arquivos dos jornais da antiga empresa jornalística
Caldas Júnior (Correio do Povo e Folha da Tarde), além de outras fontes, para
tentar entender esta relação entre Porto Alegre e a Copa de 1950. Proponho que
se tente deslocar no tempo e parar no ano em questão e assim começar a
compreender a realidade de então. Boa viagem!
1) Panorama geral
Folheando as páginas dos meses de maio,
junho e julho do Correião, observa-se que o foco principal é a situação
mundial, depois do fim da Segunda Guerra. Começou então, uma batalha velada, a
Guerra Fria, que opunha o Primeiro Mundo (Estados Unidos) e o Segundo Mundo (a
União Soviética), além dos respectivos aliados.
A Alemanha, em destroços depois da guerra,
era dividida ao meio entre capitalistas e socialistas. O Japão tentava se
reconstruir depois da bomba atômica. A União Soviética tenta angariar mais
territórios na China. Os americanos funcionam como a polícia mundial, tentando
de toda forma, impedir o avanço socialista.
No Brasil, vive-se o governo do general
Eurico Gaspar Dutra, que em 1947 rompe relações com a União Soviética,
alinhando-se aos americanos. E Getúlio Vargas já se movimentava nos bastidores
visando a eleição de outubro de 50, que o levaria ao poder pela segunda vez.
O Rio Grande do Sul era governado por
Walter Jobim, eleito em 1947. Durante seu governo a Assembléia Legislativa
aprovou nova Constituição Estadual, que incluía uma emenda, formulada pelo
Partido Libertador mas apresentada pelos trabalhistas João Goulart e Leonel
Brizola, que instituía o parlamentarismo no estado. Jobim recorreu no Supremo
Tribunal Federal, que acabou por derrubar a emenda.
A Capital tinha como prefeito o engenheiro
Ildo Meneghetti, que em 1948 foi nomeado prefeito da capital gaúcha pelo então
governador Walter Jobim. Meneghetti, por sinal, teria influência na
reformulação do Estádio dos Eucaliptos, do Internacional, que receberia os
jogos da Copa.
2) Antes da Copa
O que se discutia às vésperas da Copa do
Mundo de 1950 na capital gaúcha era o palco dos jogos. Com a promessa de sediar
no mínimo 3 partidas, o estádio escolhido para tal foi o dos Eucaliptos, então
maior praça esportiva local. Mesmo assim, como manchetava a Folha da Tarde de 3
de maio: “Até junho o estádio dos
Eucaliptos terá capacidade para mais 15 mil pessoas”. E segue: “Está
sendo construída uma nova arquibancada de concreto, com 80 m de comprimento e
60 degraus para acomodar o público”. Com as obras, a capacidade seria ampliada
para 35 mil pessoas.
Enquanto isso corria na cidade o Torneio
Extra, campeonato que reunia, além da dupla Gre-Nal, Renner, Nacional,
Cruzeiro, São José e o Corinthians Porto-alegrense, ex-Força e Luz. A título de
curiosidade, vejamos como formavam as equipes à época:
Grêmio: Sérgio; Higo e Jonny; Ari,
Sarará e Heitor; Palejo, Hermes, Aris, Sano e Ariovaldo.
Inter: Ivo, Dalegrave e Maravilha; Viana,
Ruaro e Oreco; Herculano, Ênio, Huguinho, Mujica e Carlitos.
Cruzeiro: Borracha; Carrion e Zé Moreno;
Laerte, Garcia e Sidnei; Teotônio, Nando, Joeci, Alvim e Bruxo.
Nacional: La Paz, Lindoberto e Pipoca;
Quito, Laerte e Moreira; Bodinho, Quinzinho, Valter, Guaraci e Francisco.
Renner: Albertino; Pedro e Bedeu; José,
Vado e Dutra; Medina, Nadir, Saladuro, Segura e Guido.
São José: Wilson; Gaúcho e Osvaldo Só;
Aldeia, Ivo e Gomes; Loureiro, Rubinho, Sadi, Pedrinho e Marçal.
Corinthians: Lucien; Wichneski e Ênio;
Mesquita, Tibica e Repolho; Cordeirinho, Adão, Mário Andrade, Juninho e
Carlinhos Só.
Para arbitrar os jogos do Torneio Extra, a
então Federação Rio-Grandense de Futebol (FRGF) contratou o juiz inglês Cyril
John Barrick, ou simplesmente Mr. Barrick. Trabalhava também no interior do
estado, apitando partidas em Bagé e Pelotas, principalmente e também foi
convidado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para arbitrar no Rio
de Janeiro.
Entretanto, esta maratona não agradava o
britânico e, além disso, o pagamento que recebia (em torno de dois mil
cruzeiros) era suficiente apenas para cobrir os gastos aqui, não conseguindo
enviar “nenhum ceitil” para sua família na Europa. Não foram poucas as linhas
nos jornais sobre a estada de Mr. Barrick por aqui.
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