quarta-feira, 11 de junho de 2014

Porto Alegre e a Copa de 1950 - parte 1

 Por Alexandro Gomes

      Estamos às portas de mais uma Copa do Mundo. Em 2014, será a vez do Brasil sediar a sua segunda competição, visto que recebeu 13 seleções em 1950 e a história todos já sabemos.

      O propósito do artigo é relacionar Porto Alegre com a Copa do Mundo, já que foi escolhida pela FIFA para receber jogos em 2014, da mesma forma que 1950. É evidente que as realidades são completamente diferentes, em aspectos sociais, econômicos, estruturais. Mas como a capital gaúcha se preparou 60 anos atrás para receber delegações estrangeiras para um campeonato mundial? Qual a interferência do poder público? Como a população reagiu à novidade? Qual a realidade do futebol local à época?

      Essas e outras perguntas são alvo deste texto. Dei um mergulho nos arquivos dos jornais da antiga empresa jornalística Caldas Júnior (Correio do Povo e Folha da Tarde), além de outras fontes, para tentar entender esta relação entre Porto Alegre e a Copa de 1950. Proponho que se tente deslocar no tempo e parar no ano em questão e assim começar a compreender a realidade de então. Boa viagem!


1) Panorama geral

      Folheando as páginas dos meses de maio, junho e julho do Correião, observa-se que o foco principal é a situação mundial, depois do fim da Segunda Guerra. Começou então, uma batalha velada, a Guerra Fria, que opunha o Primeiro Mundo (Estados Unidos) e o Segundo Mundo (a União Soviética), além dos respectivos aliados.

      A Alemanha, em destroços depois da guerra, era dividida ao meio entre capitalistas e socialistas. O Japão tentava se reconstruir depois da bomba atômica. A União Soviética tenta angariar mais territórios na China. Os americanos funcionam como a polícia mundial, tentando de toda forma, impedir o avanço socialista.

      No Brasil, vive-se o governo do general Eurico Gaspar Dutra, que em 1947 rompe relações com a União Soviética, alinhando-se aos americanos. E Getúlio Vargas já se movimentava nos bastidores visando a eleição de outubro de 50, que o levaria ao poder pela segunda vez.

      O Rio Grande do Sul era governado por Walter Jobim, eleito em 1947. Durante seu governo a Assembléia Legislativa aprovou nova Constituição Estadual, que incluía uma emenda, formulada pelo Partido Libertador mas apresentada pelos trabalhistas João Goulart e Leonel Brizola, que instituía o parlamentarismo no estado. Jobim recorreu no Supremo Tribunal Federal, que acabou por derrubar a emenda.

      A Capital tinha como prefeito o engenheiro Ildo Meneghetti, que em 1948 foi nomeado prefeito da capital gaúcha pelo então governador Walter Jobim. Meneghetti, por sinal, teria influência na reformulação do Estádio dos Eucaliptos, do Internacional, que receberia os jogos da Copa.

2) Antes da Copa

      O que se discutia às vésperas da Copa do Mundo de 1950 na capital gaúcha era o palco dos jogos. Com a promessa de sediar no mínimo 3 partidas, o estádio escolhido para tal foi o dos Eucaliptos, então maior praça esportiva local. Mesmo assim, como manchetava a Folha da Tarde de 3 de maio: “Até junho o estádio dos Eucaliptos terá capacidade para mais 15 mil pessoas”. E segue: “Está sendo construída uma nova arquibancada de concreto, com 80 m de comprimento e 60 degraus para acomodar o público”. Com as obras, a capacidade seria ampliada para 35 mil pessoas.

      Enquanto isso corria na cidade o Torneio Extra, campeonato que reunia, além da dupla Gre-Nal, Renner, Nacional, Cruzeiro, São José e o Corinthians Porto-alegrense, ex-Força e Luz. A título de curiosidade, vejamos como formavam as equipes à época:

      Grêmio: Sérgio; Higo e Jonny; Ari, Sarará e Heitor; Palejo, Hermes, Aris, Sano e Ariovaldo.

      Inter: Ivo, Dalegrave e Maravilha; Viana, Ruaro e Oreco; Herculano, Ênio, Huguinho, Mujica e Carlitos.

      Cruzeiro: Borracha; Carrion e Zé Moreno; Laerte, Garcia e Sidnei; Teotônio, Nando, Joeci, Alvim e Bruxo.

      Nacional: La Paz, Lindoberto e Pipoca; Quito, Laerte e Moreira; Bodinho, Quinzinho, Valter, Guaraci e Francisco.

      Renner: Albertino; Pedro e Bedeu; José, Vado e Dutra; Medina, Nadir, Saladuro, Segura e Guido.

      São José: Wilson; Gaúcho e Osvaldo Só; Aldeia, Ivo e Gomes; Loureiro, Rubinho, Sadi, Pedrinho e Marçal.

      Corinthians: Lucien; Wichneski e Ênio; Mesquita, Tibica e Repolho; Cordeirinho, Adão, Mário Andrade, Juninho e Carlinhos Só.

      Para arbitrar os jogos do Torneio Extra, a então Federação Rio-Grandense de Futebol (FRGF) contratou o juiz inglês Cyril John Barrick, ou simplesmente Mr. Barrick. Trabalhava também no interior do estado, apitando partidas em Bagé e Pelotas, principalmente e também foi convidado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para arbitrar no Rio de Janeiro.


      Entretanto, esta maratona não agradava o britânico e, além disso, o pagamento que recebia (em torno de dois mil cruzeiros) era suficiente apenas para cobrir os gastos aqui, não conseguindo enviar “nenhum ceitil” para sua família na Europa. Não foram poucas as linhas nos jornais sobre a estada de Mr. Barrick por aqui.

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