domingo, 15 de junho de 2014

Porto Alegre e a Copa de 1950 - parte 5

-         Suíça 2 x 1 México (2 de julho)

      A Suíça estreou na Copa com uma derrota para a Iugoslávia por 3 a 0, em Belo Horizonte em dia 25. Três dias depois, os helvéticos obtiveram resultado surpreendente: 2 a 2 com o Brasil, no Pacaembu, São Paulo. E, primeiro de julho, o Brasil enfrentou a Iugoslávia, e venceu por 2 a 0. Desta forma, suíços e mexicanos jogariam dia 2 já sem chances de classificação, o que desmotivou a torcida porto-alegrense. O público foi estimado em 4 mil pessoas.

      A Folha da Tarde Esportiva do dia 1 estampava: “A estréia dos suíços – atração do internacional de amanhã, na Rua Silveiro”. A estreia referida era na cidade de Porto Alegre, na partida de caráter internacional. Em preparação ao jogo, os mexicanos treinaram no campo do Cruzeiro, a Montanha (onde hoje é o Cemitério João XXIII). Já a Suíça treinou nos Eucaliptos.

      Mesmo sendo dominada em boa parte da partida, a Suíça venceu por 2 a 1. “Despediu-se a Suíça com um triunfo” deu como manchete a FT. Eis as impressões da partida, obtidas na edição do dia 3 de julho na Folha da Tarde Esportiva.

      “Tratando-se de dois conjuntos sem qualquer pretensão ao cetro do foot-ball mundial, o público não se mostrou muito interessado em presenciar a contenda, motivo por que a renda auferida nas bilheterias foi quiçá a menor de quantas arrecadadas nesse certame: Cr$ 94.700,00”.

      “(..) a Suíça compareceu com grande contingente de afeiçoados, que se concentrou em determinado local das arquibancadas com bandeiras e lenços rubros com a cruz branca, acenando e estimulando os jogadores”.

      “Quando faltavam 15 minutos para o início do prélio, entrou em campo o quadro mexicano, que vestia as jaquetas do E. C. Cruzeiro, visto que as suas serem semelhantes às do conjunto suíço; ao ingressar na cancha, os mexicanos empunhavam as bandeiras do Brasil e do E. C. Internacional”.

      “Os primeiros quatro minutos de ações pertenceram inteiramente aos mexicanos, que carregavam com frequência, obrigando aos suíços a um estafante trabalho defensivo; aos poucos, porém, refazendo-se da surpreendente investida adversária, os europeus reagiram (...) numa carga bem tramada, atiraram com violência, indo o couro chocar-se com o travessão (...) Aos 11 minutos, obtiveram o fruto de sua atuação melhor (...) o México cedeu escanteio que foi batido por Fatton; defendeu parcialmente um zagueiro mexicano e Zader, que estava um pouco atrazado, emendou no ar, colocando o couro no fundo das redes (...)“.

      “Aos 15 minutos, numa carga cerrada do ataque mexicano, um zagueiro suíço defendeu com a mão, cometendo penalty, que o juiz suéco fez que não viu...”.

      “Com os mexicanos quase sempre no ataque, o jôgo prosseguiu até o 45°. minuto, quando numa carga dos suíços Antenen e Tamini tramaram e o insider, deslocado para a ponta direita, atirou com violência, enviezado: o arqueiro Carvallal apanhou a bola, mas deixou que escapasse das mãos, indo parar no fundo do arco; era o segundo tento dos suíços”.

      “O panorama do segundo tempo pode ser resumido em poucas palavras: desde o seu início, os mexicanos se atiraram ao ataque, dispostos a recobrar a diferença, mas suas investidas careciam de vigor (...); o onze helvético não se limitou apenas em defender; quando lhe era possível, investia a base de escapadas perigosas, que por vezes puzeram em pânico a defensiva mexicana (...)”.

      “Entretanto, aos 44 minutos, o México logrou obter a sua única conquista: um defensor atirou o couro sôbre a pequena área e Borgogna ensaiou uma 'bicicleta', indo o couro oferecer-se para Casarin, que emendou no ar, vencendo a vigilância de Hug (...)”.

      A Suíça formou com Hug; Neury e Bocquet; Lusendi, Eggimann e Quinche; Tamini, Antenen, Friedlaender, Bader e Fatton. O México teve Carvallal; Gutierrez, Gomez e Rocca; Ortiz e Uchôa; Florez, Naranjo, Casarin, Borgogna e Velasquez. O árbitro foi o sueco Yvan Eklind, cuja atuação não foi das melhores; “preocupou-se em não apitar muito, deixando passar muita falta sem punição, quando o mais recomendável seria fazê-lo, pois o infrator acabou sempre levando vantagem”, segundo avaliação da FT.

      Ademais, sabe-se bem o que se sucedeu nesta Copa. O Brasil, franco favorito, foi enredado pelo clima de “já ganhou” presente no Rio de Janeiro e o Uruguai, velho carrasco do Brasil até então aplicou o famoso “Maracanazo”, levando a sua segunda taça. Já a seleção nacional passava mais um atestado da síndrome de inferioridade, apenas superada nos meados da década, quando Pelé, Garrincha, Vavá, Didi e Cia. e a organização de Paulo Machado de Carvalho começaram a traçar a história de uma seleção vencedora.

      Estamos prestes a começar a Copa do Mundo na África do Sul, onde mais uma vez somos favoritos. E muito já se discute sobre a edição de 2014, onde seremos sede. E a discussão gira em torno dos estádios que vão receber os jogos: a polêmica do Morumbi, que não sabe se será palco da abertura da competição; do estádio de Brasília, que estava projetado para 70 mil pessoas e agora terá apenas 45 mil; estádios que nem saíram do papel, como os de Natal e Olinda. E as verbas públicas para reformas de estádios privados, o que não era admitido antes. Enfim, a história é cíclica, trocando apenas os personagens, passados 60 anos.

      Na transcrição dos trechos das edições do Correio do Povo e da Folha da Tarde Esportiva, foi mantida a grafia da época.



Texto e pesquisa: Alexandro Gomes.



Fontes: Edições do Correio do Povo e Folha da Tarde Esportiva (1950); Todas as Copas, de 1930 a 1998, Lance! (1998); Presidentes do Brasil, volume 1, Editora Rio (2003).

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